sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Patricia Acioli, Mark Duggan e as diferentes reações

Acabei de voltar de Londres faz pouco mais de uma semana, e depois de 6 meses vivendo na capital inglesa você se entristece de ver que por aqui tem muita coisa funcionando de forma errada. O que mais me incomodava eram as questões de segurança e transporte público. Morando lá você inevitavelmente fica “mal acostumado” com a sensação de segurança e a facilidade de se locomover de metrô e ônibus.
Mas o insight de hoje não tem a ver com isso. O insight de hoje diz respeito a minha percepção de como falta um sentimento de coletividade no povo brasileiro.

Vou explicar com exemplos práticos e reais:

Na noite de ontem a juíza Patrícia Acioli foi assassinada na frente de casa. Patrícia era linha dura com casos de grupo de extermínio e milícias. Não temia ameaças e fazia o que tinha de ser feito: condenar os envolvidos nessa imundice. Ato de coragem e valentia, pois como sabemos ir contra os interesses desses grupos é como entrar na fila pra sentença de morte. Por isso aparecem poucas testemunhas nesses casos, ninguém quer botar o cú na reta de milicianos. Ela foi corajosa e honrou o papel da lei, porém acabou morta, deixando 3 filhos.
E o que vai acontecer? Vão prender os responsáveis? Não. E a população vai achar o que disso tudo? Vamos esquecer a notícia em menos de uma semana. A justiça é demorada, a população é passiva e tudo fica por isso mesmo.

Agora vamos olhar pro exemplo de Londres: o mesmo telejornal que anunciou a morte de Patrícia continua noticiando sobre a onda de insurgências por lá. Insurgências que começaram depois da morte do jovem Mark Duggan. A morte de UM JOVEM foi o estopim dessa onda que dura quase uma semana. UM JOVEM é o que morre todo dia em algum bairro aqui do Rio e simplesmente nada acontece.
Não quero defender os métodos que esses londrinos vêm usando pra expor sua revolta e nem pretendo entrar nessa discussão, meu ponto é simplesmente o ato de reagir, assim como eles vêm reagindo aos cortes impostos pelo governo pra curar a ressaca da crise. A população sai às ruas pelos seus direitos, brigam, xingam, fazem suas reivindicações serem escutadas... Coisa natural pra quem se sente parte de uma coletividade que escolheu por quem ser governado.

Então fica a dica para nós – Já que o governo e a justiça brasileira parecem não ligar pra gente, será que não está na hora de aprender com essa sociedade combativa e sair na rua cobrando? Vai que esse empurrãozinho faz pegar no tranco...